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Caatinga: Retratos de uma Transformação – Do Comércio Vibrante ao Refúgio de Fim de Semana
Cultura
Publicado em 11/06/2024

Num final de semana do mês de março de 2024 estive mais uma vez no Distrito de Caatinga para um compromisso de trabalho, produzir um vídeo documentário, com recursos da LEI PAULO GUSTAVO (Lei complementar 195/2022) sobre a realidade dos moradores e as mudanças no espaço geográfico.

Cheguei bem cedo, montei a câmera num ponto estratégico, para registrar imagens do nascer do sol e a movimentação de seus moradores no rio. Os sons que ouvi foram de diversos pássaros, entre eles das araras voando baixo, e dos motores potentes das algumas canoas saindo e outras chegando.

Nas ruas da vila poucas pessoas circulando a pé, algumas em carros potentes e ao som de “ran tchum’’ barulho produzido pelo ronco do motor.

Duas horas depois do amanhecer um som ensurdecedor veio do céu, era de um helicóptero que pousou no meio do campo de futebol. Trazia um morador temporário, um grande empresário do ramo de supermercados e seus familiares para passar o final de semana, a nova realidade do lugar.  

Meu primeiro contato com a vila de Caatinga foi em 2011, ano do centenário de emancipação política, quando estive acompanhado dos Historiadores Giselda Shirley da Silva e Vandeir José da Silva, para uma entrevista com um morador ilustre, o senhor Erasmo. Era a execução do projeto Museu de Vozes da Secretaria de Cultura de João Pinheiro, entrevista que está postada nas redes sociais da Casa da Cultura no canal YOUTUBE.

Nesses treze anos voltei mais seis vezes até essa de agora e vivi as transformações, no aspecto econômico, social, cultural e estrutural.

O senhor Erasmo falou sobre o passado de Caatinga, um tempo em que o barulho ensurdecedor vinha do rio, quando era soado o apito do navio a vapor anunciando sua chegada e do ranger da madeira dos carros de bois procedentes do interior do município. Caatinga era o principal entreposto comercial do município de João Pinheiro com um comércio movimentado, o navio trazia querosene, café açúcar e outros artigos da época e levava toucinho, carne seca, grãos e rapadura.

Com o tempo, as mudanças naturais do leito do rio e a abertura de estrada de acesso ao distrito para automóveis, o rio deixou de ser uma rota comercial, Caatinga então entra num estado de letargia até o início do século 21, quando passa a ser alvo de pessoas interessadas na beleza natural e riqueza de peixes.

Com a falta de perspectivas de renda pelos moradores, muitos decidiram se mudar e venderam suas casas para esses turistas. Caatinga passa então para uma nova realidade, com muitas casas fechadas durante a maior parte dos dias, sendo agora residências apenas para finais de semana e períodos de pesca, ‘’uma casa de campo, de descanso’’, dizem os proprietários.

Nesse período vivenciei algumas mudanças significativas, como a construção de um hotel com mirante, piscina e novas casas sendo erguidas, diferentes das tradicionais, de estilo rústico. Um centro de convivência cultural que estava em ampla atividade em 2011 foi abandonado e destruído por um incêndio um tempo depois.   A instalação de um templo evangélico atraiu moradores para uma nova realidade religiosa, antes dominada pelo catolicismo e a devoção a Nossa senha de Santana.

Houve evolução também na atenção ao visitante com a instalação, pelos moradores, de uma casa de cultura, em que buscam preservar o passado com exposição de alguns utensílios e objetos dos antigos habitantes. Com apoio da Secretaria de esporte, cultura, turismo e lazer vem sendo ampliada com a criação de sala para exibição de vídeos e outras formas de fomentar o turismo. Também houve, pela primeira vez, o asfaltamento de novas ruas, a principal do lugar é calçada com pedras. 

Na área rural plantações de árvores nobres como Mogno e grandes lavouras de cana irrigadas mudaram a paisagem.A estrada de acesso continua na mesma realidade de 2011, de terra e de difícil locomoção no período de chuva. Isso dificulta, juntamente com a pouca população, de circulação de um ônibus de linha diária, hoje uma das reivindicações dos moradores.

Com foco nessas mudanças e os novos rumos da comunidade, o documentário irá abordar essas e outras situações, inclusive a nova tendência de turista que pesca o peixe apenas por esporte, sendo a maioria das espécies devolvida ao rio.

Caatinga está  sendo chamada por alguns turistas e moradores de ‘’Nova capitólio’’, fazendo alusão ao município de Capitólio, na região centro-oeste de Minas.  

Weligton Ney

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